quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Tardes De Outono: Trecho Do Meu Mais Recente Livro, Ainda Não Publicado

Na manhã seguinte Petrônio caminhava ao lado do velho guerreiro. As margens de um rio. O vale das sombras, não era o lugar mais lindo do mundo. Aos olhos de Petrônio aquele lugar cheirava a desespero. Apesar de se parecer com um vale bonito quando o avistou pela primeira vez pouco antes de desmaiar. As águas turvas do rio eram escuras e o mal cheiro quase o deixava sem ar. As arvores secas não geravam frutos, nem sombras. Carcaças de animais selvagens espalhados por todo o vale. Aquele lugar cheirava a morte.
- Agora compreendo porque este lugar se chama vale das sombras. – Disse Petrônio assustado.
- Chamamos de Vale Das Sombras, porque é o lugar que todo ser humano desce quando está com o coração angustiado. Quando a dor é maior do que a alegria. Quando a consciência está pesada por algo que fizemos que foi prejudicial há alguém e o sentimento de culpa predomina, descemos ao vale das sombras. Para aprendermos a conviver com a dor e aos poucos ela vai cicatrizando. Você acreditou em uma lenda e foi até o fim encontrou o vale das sombras de verdade, e agora faz o tratamento da sua doença. Veja o ferimento em seu ombro está quase sarado. Assim é com a sua alma, porém os ferimentos da alma levam mais tempo para serem cicatrizados. Algumas pessoas levam anos, ou passam quase uma existência inteira para cicatrizar estas feridas.

Pois se negam a descer ao vale das sombras de suas vidas. O vale das sombras representa o mais baixo dos lugares, o mais desconfortável lugar em nossa própria consciência. Mas não se deixe enganar pelas aparências. O vale das sombras é um lugar mágico. Ao contrario do que você enxerga, vejo pássaros lindos, as águas limpas do rio Arabi que em sua língua significa “lindas lágrimas”, são tão claras e cristalinas. As montanhas, o céu brilhante, o meu vale é a mais perfeita combinação da natureza e regozija minha alma.
- Estamos falando do mesmo lugar. – Petrônio disse assustado. E tornava a olhar o rio Arabi e não conseguia ver nada de límpido e cristalino.
- Para você ver o que vejo você precisa estar com o coração puro. Sua ferida ainda não está cicatrizada. Ainda carrega a culpa dentro de si. E enquanto sentir remorso seu coração amargurado não permite que veja a beleza deste vale. Pois um coração amargurado não consegue ver a beleza ao seu redor.
- Sim é verdade carrego dentro de mim a culpa de ter perdido, o meu verdadeiro amor. Mas agora compreendo melhor e acho que não era pra ser mesmo.
- Está criando uma ilusão para justificar a perda. Está enganando a si mesmo. Criando
uma desculpa para que viva esta ilusão. Funciona a principio, mas não dura muito
tempo. – Novamente a imagem de Adhalia veio a sua mente, lembrou da última vez que a vira e que ela pediu para que virasse a página. Ela o havia esquecido completamente e no entanto aquele amor ardia dentro do seu peito. Lembrou de suas palavras pedindo para ele virar a pagina de sua vida, pois ela já o havia feito. Estremeceu com a ideia de que ela pudesse ser feliz nos braços de outro homem. E não pode conter as lágrimas.
Que banhavam sua face e esvaziavam todo aquele sentimento preso em seu coração. Ele estava derramando as lindas lágrimas que o rio Arabi exigia para si.
Após um longo período no vale das sombras, Petrônio já conseguia ver a beleza daquele lugar. E estava pronto para fazer a viagem de volta. A tradição não podia ser quebrada e ninguém poderia habitar aquele lugar a não ser o seu guardião. A tradição não poderia ser quebrada Ali o tempo e o espaço eram diferentes. E pouco importava saber se era, segunda ou sábado No vale das sombras o tempo não era a prioridade. Petrônio não fazia noção de quanto tempo passara ali mais o velho guerreiro. Acordou as margens da estrada que o conduzira na mata, próximo a Guimbo já não lembrava o caminho, mais sabia que algo diferente havia acontecido com ele. Passou a mão em seu ombro e a cicatriz estava lá. Realmente não sonhara estivera no vale das sombras. Agora era tempo de recomeçar. Colocou a mão em seu bolso e retirou um objeto pequeno, era a miniatura de um Leão presente que recebera do velho guerreiro.
  “O meu passado não ficou no vale das sombras como pensava antes de chegar aquele lugar. Embora o carregue por toda a minha existência. Não me punirei mais pelos erros do passado. Eles só me servirão de exemplos para que não cometa o mesmo erro novamente. Fui libertado e perdoado, por quem precisava ser perdoado e pela minha própria consciência.”.




Nenhum comentário:

Postar um comentário