domingo, 9 de fevereiro de 2014

Happiness Is A Warm Gun

   Ontem como quase todos os dias do verão carioca fazia um calor escaldante... Não sei exatamente, mas acredito que passava dos trinta graus afinal a cidade é quarenta como diz a canção. Caminhava sob um sol forte passando por uns poucos transeuntes que por necessidade se aventuravam caminhar sobre o domínio de quase quarenta graus e sensação térmica superior.
   Caminhava imerso em meus pensamentos e a medida que se aproximava de um casal deitado sobre a cama de papelão encostada no muro da calçada. Interrompi meus pensamentos e me concentrei no jovem casal a minha frente. O calor era insuportável, e os dois ali deitados como se fossem um casal de namorados em sua cabana no seio da floresta. Carinhosamente o rapaz passou a mão nas pernas da companheira, e ela tratou logo de tira-la, na defensiva.
   Ela o fez de uma maneira, nem tão rápida demais para não parecer grosseira, e nem tão lenta para não demonstrar tão explicitamente. mas não pude deixar de registrar o ato de carinho, e nem tampouco o leve sorriso no rosto da mulher. "Da fêmea que controla  e deixa ser controlada" deixei um leve sorriso aparecer em meu rosto e interpretei aquela tirada de mão como se ela dissesse: "Aqui não as pessoas estão olhando, agora não... Seu danadinho", mas ao mesmo tempo era como se ela dissesse: "Vai... não tira a mão daí não... Também quero..." com aquele jeito que só as mulheres sabem fazer.
   Um pequeno gesto realizado por um casal de namorados, moradores de rua. Um pequeno gesto em meio a adversidade, um pequeno gesto de carinho, uma pequena demonstração de amor é capaz de mudar a paisagem. Onde havia um casal de sem tetos, vivendo na penúria total de suas vidas "sem sentido", mas capazes de amar. A necessidade de afeto, demonstrações de carinho é uma necessidade humana. Não importa quem você é, ou a qual grupo pertence.
   O sol não é apenas um ponto amarelo na imensidão do firmamento. Mas o firmamento é grato por por ter um sol em seu "mundo". Assim como é grato pela luminosidade da lua que enfeita as noites escuras. Pus um sorriso no rosto e segui meu caminho...Deixei para trás o casal de enamorados que talvez não enxergasse a vida como eu enxergo... Mas algo nos unia... Algo nos fazia humanos e ao mesmo tempo deuses...No mistério da criação ri, no sol escaldante compreendi que os valores se consolidam nos pequenos gestos onde haja amor... E o que me unia aquele casal, que aos meus olhos eram tão diferentes e em uma situação tão adversa era a capacidade de amar....