No dia seguinte ligou para Beatriz novamente. Sentia uma necessidade quase orgânica de falar com ela todos os dias. O telefone tocou uma, duas, na terceira vez atenderam e Eros reconheceu a voz suave da mulher que atendeu:
- Hotel Roial Valle boa tarde.
- Boa tarde Beatriz.
- Quem está falando?
- Sou eu, o Carlos. - Beatriz deu um longo sorriso.
- Carlos ontem quando você me ligou esqueci de perguntar qual a sua idade?
- Tenho 20 anos.
- Você tem 20 anos com essa cabeça. Parece mais maduro, embora inseguro.
- Eu também não sei a sua idade, mas vou tentar advinhar. Você tem no máximo 22 anos.
- A mesma idade que você.
- É mesmo que legal! Pelo menos temos um ponto em comum. O seu filho deve ter... Deve ter... uns dois aninhos.
- Não, 1 ano e 3 meses.
- Nossa. Não estou acertando uma. Não é verdade?
- Tudo bem é difícil acertar de primeira. Você já viu meu filho?
- Não, mas deve ser lindo sendo seu filho.
- Realmente ele é lindo, mas não parece comigo.
- Modéstia sua, ele deve ser tão lindo quanto você. Estou com muita vontade de conversar com você pessoalmente. Conversar com essa mulher maravilhosa que me encanta tanto.
- Você fica me dizendo essas coisas fico até vermelha. Eu nem sei o que dizer quando a gente se encontrar.
- Estou me preparando para este momento. Espero que quando este momento chegar, tudo possa correr como o esperado.
- Carlos se tiver que rolar, vai rolar eu já te disse isso. Senão fica uma bela amizade você não acha?
- Espero que o amor prevaleça, porque quando se ama uma pessoa, não se pensa em amizade, mas serve de consolo. Eu te amo e nos meus sonhos a vejo me amando com muita intensidade. Fico torcendo para que na realidade aconteça como nos meus sonhos.
- Quem sabe. Preciso conhecê-lo primeiro não é mesmo?
- Concordo plenamente, só peço a você um pouco mais de paciência até que eu tenha coragem suficiente.
- Você não se acha um cara atraente?
- Não sei... Fica difícil se auto avaliar. Eu me acho simpático, bonito e tenho um bom papo.
- Realmente um bom papo você tem. A primeira vez que você ligou, você disse que essa não era sua voz. Fale com a sua voz normal para que eu possa ouvir por favor. - Pensou um instante e decidiu atender o pedido de beatriz:
- Tudo bem, esta é a minha voz normal.
- Já ouvi esta voz, só não estou lembrada aonde... De repente como um relâmpago ela falou:
- Já sei, foi no ponto de ônibus. - Eros ficou trêmulo, empalideceu. Precisava ser rápido e convincente, ela estava quase descobrindo a verdade.
- Não, não foi no ponto de ônibus eu raramente vou neste bairro onde você trabalha, ja te falei onde moro.
- Onde você me viu pela primeira vez? Indagou Beatriz tentando descobrir alguma pista que a levasse a descobrir o seu admirador secreto.
- Na praça, estava passando de carro e você estava lá.
Cada pergunta que ela fazia exigia que ele tivesse muita atenção nas respostas, para não deixar nenhuma pista que viesse a revelar a sua identidade.
- Outra vez que te vi, estava no ônibus e você estava conversando com um amigo seu.
- AH! Sim me lembro. Então você estava no ônibus aquele dia. Mas não dá pra saber quem é você, e o ônibus estava lotado aquele dia.
- Calma é só ter paciência. Você vai me conhecer, tudo tem o seu tempo.
- Tchau, até a próxima, um beijo pra você.
- Outro. Quando você vai me ligar novamente?
- Não sei, não quero te atrapalhar no seu trabalho.
- Imagine você não me incomoda. Ao contrário você me faz sentir uma pessoa amada, mesmo sem te conhecer.
Essa frase fez muito bem para o seu ego. Eros se sentiu flutuando no espaço infinito, sentindo toda a energia do firmamento. Sentiu-se como a estrela formada por dois triângulos que segundo a tradição dos yantras tântricos corresponde a união dos princípios masculino e feminino, a dualidade do físico/espiritual e o retorno a unidade do cosmos.
Passaram-se alguns dias sem entrar em contato com Beatriz. Eros aproveitou esses dias para refletir sobre tudo aquilo que estava vivendo. Perguntando a sí mesmo se já não era o momento de se apresentar para Beatriz e acabar de vez com tudo aquilo. Ou ainda era cedo demais e não estava preparado. Sempre que pensava em desistir era o medo da derrota que insistia em assombra-lo, mas logo conseguia afasta-lo.
"Acho que devo enviar-lhe um lindo bouquet de rosas vermelhas, mulheres adoram flores. Vou já ligar pra ela". - Pegou o telefone e ligou para o hotel:
- Hotel Roial Valle boa tarde.
- Gabriela, aqui é o Carlos. A beatriz está?
- Olha Carlos essa semana ela não vem trabalhar. O filho dela está doente, ela está cuidando dele.
- Ok Gabriela, muito obrigado, tenha um bom dia.
- Obrigada, igualmente. Você realmente é um rapaz cheio de amor.
" Esqueça as flores Eros. A tristeza toma conta de mim, também a sinto mesmo que não seja diretamente comigo. Mas é como se fosse, porque o sentimento me transforma. Preciso ligar para ela, mandar todo o meu apoio. Em um momento como esse toda mensagem de apoio, toda manifestação de carinho é sempre bem vinda e fortalece as pessoas para enfrentar as dificuldades. Mas não sei o número do seu telefone".
Pegou o telefone e ligou para o hotel. Assim que Gabriela atendeu foi dizendo:
- Gabriela preciso de um favor seu.
- É só falar Carlos.
- Você tem o telefone da Beatriz? Preciso falar com ela.
- Tenho sim, anote aí que vou dizer. - Gabriela passou o número do telefone a Eros que agradeceu, desligou e logo em seguida ligou para a casa de Beatriz, assim que tocou atenderam:
- Alô.
- Alô a Beatriz está?
- Ela não está. Foi levar meu neto ao médico e não sei que horas ela volta. Você quer deixar algum recado?
- Não obrigado, eu ligo pra ela mais tarde.
- Qual o seu nome? - Perguntou a mãe de Beatriz mas Eros já tinha desligado o telefone.