domingo, 18 de outubro de 2015

PRELUDIO ( HOMO SAPIENSANDO )

   Ontem uma criança brincando com a sua imaginação, o carrinho feito de latas de sardinha era a diversão de uma criança saudável e que acreditava ser o senhor do tempo. Pois o tempo para uma criança não tem a mesma importância que para os adultos. O tempo é para a criança nada mais que uma magia, o tempero da fantasia que vive no coraçãozinho que não espera o amanhã tão distante, e faz do vento que balança os seus cabelos um motivo para sorrir e as gotas da água da chuva são como bolas de sabão em sua imaginação.
   Sem se dar conta da velocidade que os momentos passam, sem ter o medo do amanhã esta criança brinca em seu carrinho de rolimã. O carrinho de latas de sardinhas e rodinhas feitas de sandálias havaianas gastas já era. Já não atrai mais, na verdade já não interessa. Agora a criança quer é aventuras mais radicais, o carrinho de Rolimã desde a sua fabricação, a descer as ladeiras e correr o risco de uma manobra errada e ganhar alguns arranhões na "pintura", e cicatrizar com bom e velho Merthiolate.
   Ou arriscar os primeiros tombos no patins, skate, aqui começa o gosto pela aventura, a percepção natural de que algo mudou. Busca a adrenalina, a sensação dos super heróis do cinema. A vontade de voar como o Super Man, Imaginar se no Batmóvel. Esse período e de aventura e efervescência é o preludio da adolescência. Transformações hormonais e alterações de humor, incertezas e um monte de por quês? As paixões avassaladoras, o primeiro beijo, o sentir o sexo e a metamorfose continua.        Um dia acorda e percebe que uma rala barba se anuncia, embora já não tenha mais a inocência de antes, ou a menina que se tornou moça, uma mulher. Mas ainda preserva o desejo de ser super herói e "salvar a humanidade", "transformar o mundo". São os ideais de um jovem seduzido pelos heróis de sua infância e adolescência e que acredita ter a força que precisa para mudar o mundo dentro de si, e tudo que ele precisa é apenas acreditar e por em prática seus planos, e projetos para ser capaz de fazer tudo aquilo que ele quer.
   É forte, jovem, saudável e cheio de vontade de viver. Possui tudo que precisa e acredita que controla tudo, até mesmo seus impulsos, suas paixões, sua humanidade. Esse jovem ainda carrega dentro de si a criança que usava carrinhos de lata, se arranhou no rolimã, levou tombos de Skate, porém com um pouco mais de idade. Ele agora se dá conta disto e olha pra trás ainda sem se dar conta que ele cresceu, mas sabe que ja tem idade para ir ao cinema sozinho. E que mesmo que aparente um adolescente ele já pode mostrar todo orgulhoso ao segurança da boate a sua carteira de identidade.
   Cada vez mais ele quer mergulhar no universo humano, descobrir, misturar, experimentar, flertar com Deus e o Diabo...E sem deixar de acreditar na sua capacidade de ser feliz. Sem perder a sua criança interior... Um dia se torna um profissional, adquire mais responsabilidades, os sonhos já não tem mais a mesma importância. As cobranças começam a aparecer em níveis cada vez maiores... Bem Vindo ao mundo dos adultos! E ele descobre que o "mundo dos adultos", é muito chato. Demanda muitas responsabilidades, resultados, metas e uma série de coisas a fazer não sobra mais o tempo que sobrava há alguns anos atrás. Que as decepções, desilusões, dores e angústias também fazem parte da vida! ( nunca imaginava isso) E bate uma imensa vontade de voltar a ser de novo a criança que já foi um dia. A nostalgia grita em seu peito adulto, essa saudade bate forte, mas é preciso prosseguir...
   Não pode viver só neste mundo adulto, ele é sério demais, chato demais, deve haver um jeito de voltar a ser criança!!! Era muito melhor! E descobre que só é possível viver no mundo dos adultos se for capaz de manter viva a criança que só queria saber de brincar mesmo que sozinho, que conversava com seu amigo imaginário. Ou que brincava com os amiguinhos de "polícia e bandido" revezando claro pois todos queriam ser polícia, todos queriam ser os heróis. A criança que passava as tardes de verão construindo castelos de areia as margens das águas do mar, e que quando as ondas violentamente derrubavam seu castelo que dera tanto trabalho ele caia no riso e o refazia. Descobre que só será capaz de prosseguir senão deixar a criança dentro de si morrer.